Qualquer discussão sobre estratégias de mídias sociais para empresas ou poder público deve ser sustentada pelas provocações do Pós-Humano. A relação do indivíduo com a tecnologia passa por um processo intenso de mudança. O desenvolvimento tecnológico tem tomado o próprio homem como objeto, não apenas interferindo sobre ele em termos de induções comportamentais, mas também atingindo dimensões internas da organização do pensamento e das emoções. É a cultura digital, a vida no Ciberespaço.
O filósofo Franklin Leopoldo e Silva nos provoca quando propõe a idéia de que podemos redefinir os limites do humano e da tecnologia, dada a simbiose entre a máquina e o homem. Entendo que a nossa condição atual parece, de fato, ser neototêmica e que corremos o risco de perder a compreensão sobre o limite de nosso corpo e o resto. Quando o nosso processo de conhecimento se produz na tela, quando se verifica o deslocamento do conteúdo de nossa mente para a internet, desaparece também o limite que separa e diferencia a nossa consciência pessoal.
Outro aspecto relevante é entender que podemos criar e gerenciar relacionamentos a partir de simulacros e não apenas de representações sociais. Como diz o professor Mauro Wilton, é preciso compreender que não precisamos mais do real para gerar uma realidade virtual, apenas a experiência. A realidade virtual pode ser uma simulação, uma nova realidade baseada na representação do real. E os games significam um fabuloso exemplo desta nova relação.
O vídeo abaixo, de Bruce Branit, reforça as provocações que tento revelar neste post. Vale assisti-lo e compartilhá-lo.
Um blog de comunicação empresarial e pública, dedicado aos estudos e reflexões sobre o universo digital
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
A internet, em vez da TV
Recentemente, tive uma experiência bem interessante, que comprova algo que já havia constatado. Meu sobrinho, de um pouco mais de dois anos, trocou uma grande TV de LCD por um computador, de 15’. Nas duas telas, o conteúdo era infantil. Mas então qual foi o diferencial? Na web, o menino acessou o conteúdo que melhor lhe convinha, na hora desejada. A internet ofereceu a ele algo customizado e isso justificou a preferência. Ele e todos nós não dependemos mais das programações engessadas da televisão.
Para entender a influência da internet, sobretudo, nos jovens é preciso reconhecer dois fatos, apontados por Pierre Lévy, um dos mais lúcidos filósofos e professores de nossa atualidade. Diz ele: “o crescimento do ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem. Em segundo lugar, que estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas deste espaço nos planos econômico, político, cultural e humano”.
Em minhas pesquisas sobre cibercultura, levantei algumas características sobre esta tal de geração “C”, a que nasceu conectada à internet. A saber,
Não diferem real e virtual;
Facilidade para atuar em rede, grupo, explorar o conceito de coletivo;
Dominam amplamente a nova linguagem, resultante da web;
Se baseiam em informação digital e customizada;
Necessidade de compartilhamento de idéias e opiniões;
Relacionamentos e vínculos criados e desfeitos mais facilmente;
Entendem a web como uma extensão de suas personalidades reais;
Vivem a cultura de uma informação “sem dono”;
Confiam mais em seus pares.
Para entendermos melhor o significado do comportamento desta nova geração, vamos destacar alguns traços de gerações anteriores – a minha e a de meus pares,
A vida, de verdade, é só o real;
Preconceito de diferentes níveis contra novos nichos e tendências;
Relacionamentos baseados nas práticas tradicionais;
Conhecimento nos meios de informação tradicionais;
Inabilidade para lidar com novas tecnologias;
Vínculos estáveis;
Mistura de velhos com novos valores culturais;
Respeitam fontes e formadores de opinião;
Resistência para mudanças.
Analisando um pouco a história, constatamos que os novos meios não anularam os anteriores. A escrita não morreu tampouco o rádio e o cinema. A internet não decreta o fim da TV, apenas a estimula a mudar: tornar-se mais interativa, colaborativa e com conteúdos customizados e muito mais diversificados.
Para entender a influência da internet, sobretudo, nos jovens é preciso reconhecer dois fatos, apontados por Pierre Lévy, um dos mais lúcidos filósofos e professores de nossa atualidade. Diz ele: “o crescimento do ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem. Em segundo lugar, que estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas deste espaço nos planos econômico, político, cultural e humano”.
Em minhas pesquisas sobre cibercultura, levantei algumas características sobre esta tal de geração “C”, a que nasceu conectada à internet. A saber,
Não diferem real e virtual;
Facilidade para atuar em rede, grupo, explorar o conceito de coletivo;
Dominam amplamente a nova linguagem, resultante da web;
Se baseiam em informação digital e customizada;
Necessidade de compartilhamento de idéias e opiniões;
Relacionamentos e vínculos criados e desfeitos mais facilmente;
Entendem a web como uma extensão de suas personalidades reais;
Vivem a cultura de uma informação “sem dono”;
Confiam mais em seus pares.
Para entendermos melhor o significado do comportamento desta nova geração, vamos destacar alguns traços de gerações anteriores – a minha e a de meus pares,
A vida, de verdade, é só o real;
Preconceito de diferentes níveis contra novos nichos e tendências;
Relacionamentos baseados nas práticas tradicionais;
Conhecimento nos meios de informação tradicionais;
Inabilidade para lidar com novas tecnologias;
Vínculos estáveis;
Mistura de velhos com novos valores culturais;
Respeitam fontes e formadores de opinião;
Resistência para mudanças.
Analisando um pouco a história, constatamos que os novos meios não anularam os anteriores. A escrita não morreu tampouco o rádio e o cinema. A internet não decreta o fim da TV, apenas a estimula a mudar: tornar-se mais interativa, colaborativa e com conteúdos customizados e muito mais diversificados.
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
O papel da mídia no caso Sarney
A decisão do Conselho de Ética de arquivar as denúncias contra José Sarney coloca ainda mais combustível na crise envolvendo o presidente do Senado e ex-presidente da República.
Neste processo, Sarney só tem uma saída, a despeito da grande ajuda que tem recebido do Planalto. Tem de deixar imediatamente a presidência do parlamento e provar à sociedade que não tem responsabilidades sobre as denúncias envolvendo o seu nome – ou não.
Crises do tipo “escândalo político patrimonial” têm como característica a cobertura da vida privada de políticos e de pessoas de seu estreito relacionamento. A temática deste escândalo no Brasil é a da corrupção. Outros já passaram por ela. Agora chegou a vez de Sarney, incluindo as pessoas que o cercam.
O arquivamento das denúncias também pode ser o ingrediente que faltava para estimular a imprensa a entrar de vez no imbróglio jurídico que tem censurado O Estado de S. Paulo. O jornal foi impedido pelo Judiciário de publicar reportagem denunciando Fernando Sarney, filho do presidente do Senado.
O envolvimento da mídia no caso tem sido tímido. Mas pode crescer muito. Toda a sociedade vem sendo duramente atingida pela liminar que proíbe a exposição das denúncias e o esclarecimento dos fatos. Não se trata de espírito de corpo, mas de organização da imprensa contra decisões abusivas que ameaçam a democracia.
A proibição revela a existência de mazelas da ditadura brasileira, que ainda permanecem por causa de atos sigilosos de parlamentares, que fazem da política a extensão de seus negócios e interesses privados. Aqui não se trata apenas de restrição à liberdade de imprensa e de expressão, mas de suposta interferência da família Sarney no Judiciário brasileiro.
A motivação da cobertura jornalística deste caso também é institucional. Envolve posicionamento público e social da própria mídia. O escândalo envolvendo Sarney serve para destacar a defesa do interesse público pelo jornalismo, que ao denunciar algumas práticas, se legitima como agente de vigilância das instituições e da sociedade. Ao trabalhar para elucidar os fatos, a mídia está destacando os valores éticos e morais aos quais pretende estar associada ou comprometida. Deve ser assim.
Neste processo, Sarney só tem uma saída, a despeito da grande ajuda que tem recebido do Planalto. Tem de deixar imediatamente a presidência do parlamento e provar à sociedade que não tem responsabilidades sobre as denúncias envolvendo o seu nome – ou não.
Crises do tipo “escândalo político patrimonial” têm como característica a cobertura da vida privada de políticos e de pessoas de seu estreito relacionamento. A temática deste escândalo no Brasil é a da corrupção. Outros já passaram por ela. Agora chegou a vez de Sarney, incluindo as pessoas que o cercam.
O arquivamento das denúncias também pode ser o ingrediente que faltava para estimular a imprensa a entrar de vez no imbróglio jurídico que tem censurado O Estado de S. Paulo. O jornal foi impedido pelo Judiciário de publicar reportagem denunciando Fernando Sarney, filho do presidente do Senado.
O envolvimento da mídia no caso tem sido tímido. Mas pode crescer muito. Toda a sociedade vem sendo duramente atingida pela liminar que proíbe a exposição das denúncias e o esclarecimento dos fatos. Não se trata de espírito de corpo, mas de organização da imprensa contra decisões abusivas que ameaçam a democracia.
A proibição revela a existência de mazelas da ditadura brasileira, que ainda permanecem por causa de atos sigilosos de parlamentares, que fazem da política a extensão de seus negócios e interesses privados. Aqui não se trata apenas de restrição à liberdade de imprensa e de expressão, mas de suposta interferência da família Sarney no Judiciário brasileiro.
A motivação da cobertura jornalística deste caso também é institucional. Envolve posicionamento público e social da própria mídia. O escândalo envolvendo Sarney serve para destacar a defesa do interesse público pelo jornalismo, que ao denunciar algumas práticas, se legitima como agente de vigilância das instituições e da sociedade. Ao trabalhar para elucidar os fatos, a mídia está destacando os valores éticos e morais aos quais pretende estar associada ou comprometida. Deve ser assim.
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Um grupo conservador tentará minimizar o potencial máximo do novo meio
O ciberespaço deve ser totalmente livre? Há limites para o peer-to-peer? Não deveríamos aceitar o fato de que algumas convenções sociais, sobretudo jurídicas, possam regular as relações no ambiente da Internet?
Em entrevista à Folha nesta quarta-feira, Peter Sunde (Pirate Bay) tenta estabelecer algumas respostas, mas que na verdade, devem soar como provocações. As ideias de Marcos Cavalcanti e Carlos Nepomuceno podem contribuir com o debate e a reflexão.
"Também faz parte das lições aprendidas com a chegada de um novo paradigma que um grupo conservador - motivado por diferentes interesses - tente se apropriar do novo meio e impor a ele a visão anterior - impedindo assim que o que existe de mais novo se potencialize.
Niklas Zennstrom lembra que que quando as estações de rádio começaram a tocar músicas obtidas gratuitamente, as gravadoras começaram a processá-las, achando que agora os consumidores de música já não iriam querer comprar um disco numa loja. Mas acho que, hoje em dia, todos concordamos que estações de rádio são boa coisa.
É uma tentativa similar àquela a que assistimos hoje na rede, na discussão dos fornecedores do potencial da Internet, focado na comunicação multidirecional versus aqueles que a interpretam como uma simples convergência de mídia."
Em entrevista à Folha nesta quarta-feira, Peter Sunde (Pirate Bay) tenta estabelecer algumas respostas, mas que na verdade, devem soar como provocações. As ideias de Marcos Cavalcanti e Carlos Nepomuceno podem contribuir com o debate e a reflexão.
"Também faz parte das lições aprendidas com a chegada de um novo paradigma que um grupo conservador - motivado por diferentes interesses - tente se apropriar do novo meio e impor a ele a visão anterior - impedindo assim que o que existe de mais novo se potencialize.
Niklas Zennstrom lembra que que quando as estações de rádio começaram a tocar músicas obtidas gratuitamente, as gravadoras começaram a processá-las, achando que agora os consumidores de música já não iriam querer comprar um disco numa loja. Mas acho que, hoje em dia, todos concordamos que estações de rádio são boa coisa.
É uma tentativa similar àquela a que assistimos hoje na rede, na discussão dos fornecedores do potencial da Internet, focado na comunicação multidirecional versus aqueles que a interpretam como uma simples convergência de mídia."
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Mahmoud Ahmadinejad contra manifestações na Web
Notícia veiculada pela imprensa nesta quarta-feira revela que o presidente reeleito do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, está tentando conter as manifestações democráticas de internautas no país. Blogueiros terão de retirar conteúdo supostamente ameaçador ao processo eleitoral. Quem tentar burlar a nova regra será alvo de "ações legais". Vale registrar aqui que muitos jornalistas estrangeiros já foram expulsos de lá e que a mídia estatal está calada.
Trata-se de uma iniciativa, além de antidemocrática e condenável, ineficaz. Pierre Lévy, um dos mais lúcidos estudiosos sobre o cibercultura, diz que "o crescimento do ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem". Ahmadinejad não conseguirá controlar as manifestações na internet - movimentos de fácil organização que vêm de baixo para cima. Ele terá de adotar outras estratégias, a começar pela sua postura política e social.
Trata-se de uma iniciativa, além de antidemocrática e condenável, ineficaz. Pierre Lévy, um dos mais lúcidos estudiosos sobre o cibercultura, diz que "o crescimento do ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem". Ahmadinejad não conseguirá controlar as manifestações na internet - movimentos de fácil organização que vêm de baixo para cima. Ele terá de adotar outras estratégias, a começar pela sua postura política e social.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Estudo mostra as marcas mais citadas no Twitter no último mês
A Microsoft foi a marca mais “falada” pelos usuários do Twitter no Brasil, com 12,35% dos tweets. Em segundo, com 10,64% aparece o Linux e, em terceiro, a Nokia, com 8,84%. Os resultados fazem parte de um estudo realizado pela E-Life, que analisou 36.777 tweets, no período de 06 de maio a 02 de junho de 2009.
Segundo o estudo, o maior número de tweets citando a Microsoft repercutia o lançamento do vine.net, proposta da empresa semelhante ao Twitter, e tratava de questões sobre o Windows Vista. No caso do Linux, foram as discussões sobre o próprio sistema operacional e o lançamento de um netbook com Linux instalado.
Outros assuntos muito comentados foram o corte de funcionários da Nokia e o processo de fusão da Fiat com a Opel e a Chrysler. A Dell, devido a sua ação direta no Twitter, possui muitos depoimentos comentando seus produtos e promoções, enquanto que para LG e Samsung, os aparelhos celulares são os grandes responsáveis pelo buzz.
Segundo o estudo, o maior número de tweets citando a Microsoft repercutia o lançamento do vine.net, proposta da empresa semelhante ao Twitter, e tratava de questões sobre o Windows Vista. No caso do Linux, foram as discussões sobre o próprio sistema operacional e o lançamento de um netbook com Linux instalado.
Outros assuntos muito comentados foram o corte de funcionários da Nokia e o processo de fusão da Fiat com a Opel e a Chrysler. A Dell, devido a sua ação direta no Twitter, possui muitos depoimentos comentando seus produtos e promoções, enquanto que para LG e Samsung, os aparelhos celulares são os grandes responsáveis pelo buzz.
domingo, 19 de abril de 2009
Debates para quem estuda ou quer aprender sobre comunicação 2.0
Quem quiser participar de discussões de ótimo nível sobre comunicação e web 2.0 não pode perder a quinta edição do NewsCamp, que será realizada no Espaço Gafanhoto, dia 25 de abril, a partir das 10h.
Trata-se de uma desconferência com algumas regras. A principal delas, segundo os organizadores Eduardo Vasques e Ceila Santos , é o respeito pela opinião do outro, pelo pluralismo ideológico. A segunda regra é que o NewsCamp é focado em jornalismo digital e mídias sociais. Ou seja, qualquer assunto que esteja fora deste contexto está descartado da roda de conversa.
As inscrições devem ser feitas no blog do NewsCamp. Estarei lá.
Trata-se de uma desconferência com algumas regras. A principal delas, segundo os organizadores Eduardo Vasques e Ceila Santos , é o respeito pela opinião do outro, pelo pluralismo ideológico. A segunda regra é que o NewsCamp é focado em jornalismo digital e mídias sociais. Ou seja, qualquer assunto que esteja fora deste contexto está descartado da roda de conversa.
As inscrições devem ser feitas no blog do NewsCamp. Estarei lá.
domingo, 12 de abril de 2009
Contribuindo com o debate e a disseminação dos conceitos de RP digital
Aproveito este espaço para informar aos leitores deste blog que no dia 24 de junho estarei no 13º Congresso de Comunicação Interna, que está sendo organizado e promovido pelo grupo internacional Informa (IBC).
Junto com João Cabral, Agência Click, participarei como palestrante do painel Reputação da Empresa nas Redes Sociais: como Lidar com a Inserção do Colaborador neste Tipo de Mídia.
Junto com João Cabral, Agência Click, participarei como palestrante do painel Reputação da Empresa nas Redes Sociais: como Lidar com a Inserção do Colaborador neste Tipo de Mídia.
Uma aula de comunicação: o Plano Real, por Silvio Santos
Fernando Henrique Cardoso, provavelmente sem querer, deu uma aula sobre comunicação em gestão de crise, em evento promovido pela Fecomercio sobre os 15 anos do Plano Real.
Ao contar a história do Plano Real, FHC comentou que, logo após seu lançamento, ele, na condição de ministro da Fazenda, mantinha conversas diárias com a imprensa com o objetivo de explicar e detalhar exaustivamente o Plano. Num domingo ele foi ao SBT para participar do Programa Silvio Santos, na época um programa de muita audiência junto à população com menos acesso à informação.
Ao chegar no SBT, FHC conversou longamente com o Silvio Santos e explicou, detalhadamente, o Plano para ele. Silvio ouvia com atenção, fazia muitas perguntas e pedia que ele explicasse novamente diversas vezes.
Começa o programa. Silvio Santos, com o carisma que é a sua marca, saúda a platéia, chama o público de “minhas colegas de trabalho” e bate-papo como se estivesse numa enorme sala de estar. Anuncia a presença do ministro da Fazenda e, em seguida faz, ele mesmo, uma brilhante e didática explicação do que era o tal Plano que, há dias, fazia parte da rotina dos brasileiros. FHC ficou surpreso com a forma como ele conseguiu traduzir, com tanta simplicidade, algo tão complexo.
Este deve ter sido um dos fatores de sucesso do Plano Real. Deste episódio podemos tirar as seguintes conclusões:
1. Num momento de crise, não fuja. Comunique permanentemente;
2. O melhor porta-voz é sempre do alto escalão. Sua presença dá credibilidade e ressalta o real envolvimento da empresa na gestão do processo;
3. “Passar o briefing” para os profissionais de comunicação é dedicar-se aos detalhes. Explique, seja detalhista e não use filtros;
4. Em relação à imprensa, o preconceito é seu maior inimigo. Jamais negue informação a mídia alguma: todos têm credibilidade junto ao público aos quais se destinam;
5. Comunicação é técnica. Os profissionais de comunicação são especialistas em traduzir o complexo em simples e em adaptar a mensagem para cada segmento de público. Não assuma este papel: o risco é muito grande!
E, muito cá entre nós, se a boa comunicação conseguiu explicar o que era URV – Unidade Real de Valor – para milhões de brasileiros, uma boa gestão de comunicação conseguirá, também, comunicar fatos igualmente complexos. Traduzir e adaptar são as palavras-chave.
Gisele Lorenzetti é diretora executiva da LVBA Comunicação
Artigo publicado anteriormente no blog Gestão de Relacionamentos.
Ao contar a história do Plano Real, FHC comentou que, logo após seu lançamento, ele, na condição de ministro da Fazenda, mantinha conversas diárias com a imprensa com o objetivo de explicar e detalhar exaustivamente o Plano. Num domingo ele foi ao SBT para participar do Programa Silvio Santos, na época um programa de muita audiência junto à população com menos acesso à informação.
Ao chegar no SBT, FHC conversou longamente com o Silvio Santos e explicou, detalhadamente, o Plano para ele. Silvio ouvia com atenção, fazia muitas perguntas e pedia que ele explicasse novamente diversas vezes.
Começa o programa. Silvio Santos, com o carisma que é a sua marca, saúda a platéia, chama o público de “minhas colegas de trabalho” e bate-papo como se estivesse numa enorme sala de estar. Anuncia a presença do ministro da Fazenda e, em seguida faz, ele mesmo, uma brilhante e didática explicação do que era o tal Plano que, há dias, fazia parte da rotina dos brasileiros. FHC ficou surpreso com a forma como ele conseguiu traduzir, com tanta simplicidade, algo tão complexo.
Este deve ter sido um dos fatores de sucesso do Plano Real. Deste episódio podemos tirar as seguintes conclusões:
1. Num momento de crise, não fuja. Comunique permanentemente;
2. O melhor porta-voz é sempre do alto escalão. Sua presença dá credibilidade e ressalta o real envolvimento da empresa na gestão do processo;
3. “Passar o briefing” para os profissionais de comunicação é dedicar-se aos detalhes. Explique, seja detalhista e não use filtros;
4. Em relação à imprensa, o preconceito é seu maior inimigo. Jamais negue informação a mídia alguma: todos têm credibilidade junto ao público aos quais se destinam;
5. Comunicação é técnica. Os profissionais de comunicação são especialistas em traduzir o complexo em simples e em adaptar a mensagem para cada segmento de público. Não assuma este papel: o risco é muito grande!
E, muito cá entre nós, se a boa comunicação conseguiu explicar o que era URV – Unidade Real de Valor – para milhões de brasileiros, uma boa gestão de comunicação conseguirá, também, comunicar fatos igualmente complexos. Traduzir e adaptar são as palavras-chave.
Gisele Lorenzetti é diretora executiva da LVBA Comunicação
Artigo publicado anteriormente no blog Gestão de Relacionamentos.
Mais uma edição do Prêmio ABRP
De 13 de abril até 16 de maio, estudantes de todo o país de graduação e pós-graduação da área de RP terão a oportunidade participar da 27ª edição do Prêmio ABRP – Concurso Universitário de Monografias e Projetos Experimentais de Relações Públicas.
Os interessados deverão preencher uma ficha de inscrição que está no site da ABRP-SP e ler atentamente o regulamento. Os trabalhos devem ser enviados, junto com a ficha de inscrição e o comprovante de pagamento correspondente à categoria inscrita, para a sede da ABRP-SP.
Os interessados deverão preencher uma ficha de inscrição que está no site da ABRP-SP e ler atentamente o regulamento. Os trabalhos devem ser enviados, junto com a ficha de inscrição e o comprovante de pagamento correspondente à categoria inscrita, para a sede da ABRP-SP.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
Políticas de comunicação precisam contemplar "colaborador 2.0"
A política de comunicação de sua empresa estabelece regras aos colaboradores para a participação deles nas mídias sociais? Se sua resposta for negativa, saiba que você acompanha a grande maioria, que ainda não percebeu que uma opinião dada por um funcionário em um blog, em um fórum de discussões ou em uma rede de relacionamentos pode atingir a imagem e a reputação corporativa.
Da mesma forma que um diretor e um gerente não estarão dissociados de suas empresas na hora de emitir juízos sobre um determinado tema, também não estarão descolados no caso da web. A regra é a mesma. Um comentário mais enfático sobre o produto do concorrente ou uma crítica mais dura a alguém, que não estejam nos planos da organização, serão atribuídos a ela por uma grande parte da opinião pública atenta ao caso.
Devemos considerar ainda as situações em que um colaborador poderá publicar em seu blog ou em qualquer outro espaço similar posts sobre decisões que julgue controversas ou polêmicas, revelando publicamente medidas internas que, até aquele momento, eram confidenciais. Em outros tempos, em um passado sem a web 2.0, seriam.
Agora tente imaginar a publicação de um vídeo da última festa de fim de ano da sua empresa, em que muitas pessoas, um pouco mais alteradas e motivadas pela combinação alegria e bebida, aparecem de forma descontraída, cantando e dançando – para não citar ocorrências mais delicadas. Qual seria o impacto deste conteúdo - nenhuma obra prima do cinema - para a imagem empresarial? Certamente não agregaria.
Ter na empresa colaboradores que mantêm blogs, contas no Orkut, Facebook, MySpace, YouTube, Flickr e Twitter é uma realidade cada vez maior e mais intensa. Portanto, não bastará mais adotar medidas restritivas ao uso destes sites. A questão é cultural e comportamental. Será muito melhor para as organizações prever políticas sobre todas as formas de comunicação, como verbal, e-mails e participação em chats, blogs e outros canais interativos. Novos cenários exigem mudanças nas diretrizes.
Você e sua empresa devem se responsabilizar por todo o conteúdo postado nas mídias sociais: oficial ou não. David Meerman Scott, em seu livro As novas regras do marketing e de relações públicas, levanta algumas questões relevantes que devem ser debatidas no momento de definição das diretrizes de comunicação: transparência, privacidade, revelações, verdade, créditos e controle. E não se esqueça de incluir nesta política, além de regras, o bom senso.
Da mesma forma que um diretor e um gerente não estarão dissociados de suas empresas na hora de emitir juízos sobre um determinado tema, também não estarão descolados no caso da web. A regra é a mesma. Um comentário mais enfático sobre o produto do concorrente ou uma crítica mais dura a alguém, que não estejam nos planos da organização, serão atribuídos a ela por uma grande parte da opinião pública atenta ao caso.
Devemos considerar ainda as situações em que um colaborador poderá publicar em seu blog ou em qualquer outro espaço similar posts sobre decisões que julgue controversas ou polêmicas, revelando publicamente medidas internas que, até aquele momento, eram confidenciais. Em outros tempos, em um passado sem a web 2.0, seriam.
Agora tente imaginar a publicação de um vídeo da última festa de fim de ano da sua empresa, em que muitas pessoas, um pouco mais alteradas e motivadas pela combinação alegria e bebida, aparecem de forma descontraída, cantando e dançando – para não citar ocorrências mais delicadas. Qual seria o impacto deste conteúdo - nenhuma obra prima do cinema - para a imagem empresarial? Certamente não agregaria.
Ter na empresa colaboradores que mantêm blogs, contas no Orkut, Facebook, MySpace, YouTube, Flickr e Twitter é uma realidade cada vez maior e mais intensa. Portanto, não bastará mais adotar medidas restritivas ao uso destes sites. A questão é cultural e comportamental. Será muito melhor para as organizações prever políticas sobre todas as formas de comunicação, como verbal, e-mails e participação em chats, blogs e outros canais interativos. Novos cenários exigem mudanças nas diretrizes.
Você e sua empresa devem se responsabilizar por todo o conteúdo postado nas mídias sociais: oficial ou não. David Meerman Scott, em seu livro As novas regras do marketing e de relações públicas, levanta algumas questões relevantes que devem ser debatidas no momento de definição das diretrizes de comunicação: transparência, privacidade, revelações, verdade, créditos e controle. E não se esqueça de incluir nesta política, além de regras, o bom senso.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
"A tecnologia tem uma consequência moral que é dificultar o cinismo que sempre pautou as estratégias de comunicação"
A afirmação no título deste artigo é do professor Dr. Clóvis de Barros Filho, um dos principais especialistas em ética do país. O cara é polêmico e genial, a despeito de seus recursos para ganhar a admiração de sua audiência. Mas é brilhante.
Conversei com Barros Filho durante quase 1h. Pouco para quem deseja ouvir conteúdo inteligente e com poder transformador. Falamos sobre a ética das empresas no ambiente da web 2.0. Confira na seqüência a entrevista completa.
O senhor entende que uma crise surgida no ambiente das mídias sociais (blogs, comunidades e fóruns) teria o poder de impactar negativamente a imagem e a reputação de uma empresa no mundo offline?
Clóvis de Barros Filho – Uma empresa, tal como uma pessoa, ou uma instituição pública conta com uma representação social, uma idéia de que se tem dela, uma imagem, uma reputação. Em outras palavras, tanto uma pessoa, como uma empresa, não existe por si só. Mas existem muito em função do que se acredita que elas sejam. Tanto as pessoas físicas, quanto as jurídicas lutam muito para aquilo que se pensam dela seja positivo. A importância disso é tão grande, que o Direito protege a imagem e a reputação na sua seara mais legítima que é o direito penal.
Costuma-se refletir sobre o que seria necessário para controlar esta idéia ou imagem da pessoa física ou jurídica. A primeira coisa que vem à mente, é que a própria pessoa física e a jurídica podem lançar mão de ações que, de certa maneira, contribuam para construir uma reputação que se deseja, a crença daquilo que socialmente se pensa de alguém ou uma empresa seja controlável por esta pessoa física ou pessoa jurídica. De certa maneira, a doutrina de relações públicas faz crer nisso o tempo inteiro quando propõe em organogramas e modelos simplórios a empresa no centro, no modelo de sol, com raios ligando este centro que é a empresa com o resto da sociedade, os stakeholders, fazendo crer que a empresa poderia estrategicamente controlar diversos enunciatários e, com isso, controlar como a sua reputação. Esta é uma crença ingênua. A imagem ou reputação que uma empresa tem na sociedade transcende os seus esforços, a sua iniciativa de controle. Em outras palavras, a imagem ou reputação é um processo social. É um fato social, e que, portanto, tem causas sociais que vão muito além de qualquer esforço ou iniciativa que a pessoa física ou jurídica possa ter para controlá-la. A pessoa física e a jurídica farão de tudo para que se pensem bem dela, porém, este esforço não é suficiente, porque se não fosse suficiente nunca se falaria mal de ninguém. Como se fala mal de todo mundo, o tempo inteiro isto é uma prova indiscutível de que este esforço de autopreservação da imagem é insuficiente para, de certa maneira, definir esta reputação. Nesse sentido, existe o que não poderíamos chamar de processo polifônico, onde a sociedade é um espaço, uma rede de circulação discursiva que se tem por objeto – a sociedade fala sobre tudo e a cada segundo, as idéias e as representações sobre as pessoas e as empresas vão sendo alteradas ininterruptamente por variáveis sofisticadas, complexas e que se complexificam ao infinito e, por isso, vão muito além dessa ou daquela iniciativa.
Existe uma observação do mundo que vai além da estratégia de comunicação. Acredito que, de certa maneira, subestima-se a inteligência do receptor. A Teoria da Comunicação já entendeu que o receptor é inteligente, mas a comunicação aplicada ainda não e acha que as iniciativas de comunicação são superpoderosas e resolvem qualquer problema. Então, os processos são polifônicos e complexos. O que fazem as novas tecnologias? Aceleram o que sempre aconteceu. Novas tecnologias não deram a ninguém inteligência. Novas tecnologias não permitiram enunciação de mensagens que antes não existiam. Não permitiram ao enunciatário decodificar o que não poderiam decodificar. Novas tecnologias aceleraram encontros que sem ela demorariam mais para acontecer. Possibilitaram encontros e, portanto, atos de comunicação. As novas tecnologias mudam a cadência do processo polifônico de definição das reputações. Nesse sentido, é claro que produzem efeito. Com a internet não ficou mais complexo. Continua tudo igual. Só que agora fica mais visível que o objeto da reputação tem pouco controle sobre os processos sociológicos e políticos de definição da imagem que se tem dele. A internet deixa isso mais claro. Fica mais visível que, mais acelerado, escapa ao controle do enunciador a construção da reputação.
O senhor acredita que é possível mensurar os estragos de uma crise nas mídias sociais?
CBF - Isso então é alguma coisa que me causa muita estranheza. O processo de definição de reputações é um processo sociológico e, portanto, em permanente trânsito. De tal maneira que mesmo se você conseguisse quantificar, ele estaria caduco no segundo seguinte, porque a sociedade não pára. As relações não param e, finalmente, o que você conseguiu quantificar estará vencido no segundo seguinte, porque já continuaram falando sobre a sua empresa no segundo seguinte.
A questão da reputação é uma questão que envolve aspectos cognitivos e afetivos. Como é que você vai quantificar a alegria que a marca da Nike produz em quem a contempla por ser consumidor daquela marca? Naturalmente, alguém dirá muito feliz, pouco feliz. Estratégia absolutamente demencial, porque alegria não se divide em quatro ou cinco categorias ou em trinta e cinco, porque os afetos são sempre inéditos. Eles não se repetem e, portanto, não se deixam categorizar. Toda tentativa de circunscrever quantitativamente resultados nesse campo, acaba, de certa maneira, desmerecendo aquilo que é mais importante, que é absolutamente intangível, que é o afeto. É aquilo que você sente muito mais do que aquilo que você tem a dizer. Isto não se deixa limitar a nenhuma estratégia de quantificação. Você pode até quantificar desde que você seja lúcido o suficiente para dizer: olha cada banana é diferente uma da outra. Partindo do pressuposto de que todas as bananas são iguais, é possível contar bananas. Aí, você adota uma cautela e certa humildade diante desta quantificação. Quem quantifica é arrogante, pretensioso. Acha que a verdade é 28,4.
Considerando que não seja possível controlar o que se diz de uma empresa na web, sobretudo, em um cenário de crise, seria então possível gerenciar algumas variáveis? Quais?
CBF - Para responder, preciso conceituar as diferenças entre persuasão e convencimento. Qual é a diferença entre “eu estou persuadido” e “eu estou convencido”? Eu estou persuadido indica que você, solitariamente, contemplou o mundo e acha que o mundo é de certo jeito. “Eu estou convencido” é quando esta pessoa persuasão foi submetida ao crivo do espaço público. Então, eu olhei o mundo e disse qual era o meu ponto de vista. Outros olharam o mesmo mundo e, de certa maneira, chancelaram esta visão. Enquanto no processo de persuasão nós permanecemos na dúvida radical e no subjetivismo absoluto. Quando você tem dez pessoas que olham para a mesma coisa e dizem mais ou menos a mesma coisa é sinal de que há naquele espaço público pontos de tangência. Ou seja, a minha persuasão vai se tornando um convencimento, na medida em que vou tendo a proteção dos pontos de vista de outras pessoas. Então, eu estou convencido de que a ação do profissional de comunicação é a ação no sentido de converter uma persuasão de seu cliente num convencimento. Em outras palavras, para que isso aconteça é preciso que aquele ato de fala não seja entendido como um ato de fala subjetivo, individual. Ele terá mais chance de convencer na medida em que ele estiver sido entendido como alguma coisa, digamos, chancelada pelo espaço público. Toda vez que você sai de um instrumento de persuasão para o convencimento, você descaracteriza o interesse que está por trás de toda a persuasão e você higieniza esse interesse, dando claro que outros disseram a mesma coisa que não tem necessariamente o interesse daquele que fez a primeira observação. Então, é uma passagem de higienização, digamos, do interesse de quem fala. Todo o trabalho de convencimento é um trabalho que tem de aparecer diferente do que é. Ou seja, o trabalho, o discurso será tanto mais convencedor, quanto menos ele parecer fruto do interesse de quem se posiciona persuadido. Todo tipo de consagração será tanto mais eficaz, quanto maior o desinteresse aparente da frase consagradora, do discurso consagrador. De certa maneira, todo o trabalho de persuasão e convencimento é um trabalho de anulação da perspectiva interessada de quem fala em nome de uma suposta verdade, em nome de uma suposta concordância, que na verdade, se pretende fabricar. Mais que supostamente parte de um ponto de partida. No fundo, para convencer, você precisa negar a verdadeira natureza interessada daquela propositura persuadida. O que a internet tem que de certa maneira age sobre este processo? É que a internet fabrica condições semelhantes à Ágora ateniense aonde os discursos circulam de maneira concentrada e muito mais rapidamente. Neste caso, o trabalho de higienização é um trabalho que ,de certa maneira, é facilitado pela rapidez com que os discursos circulam e pelo relativo anonimato dos porta-vozes. O número de discursos e iniciativas discursivas na internet é tão grande que você não sabe mais quem está falando. Este processo é facilitador de ações de comunicação. Você tem uma pluralidade de discursos infinita, uma rapidez de enunciação de discursos infinita e, portanto, uma tendência a estabelecer uma ruptura entre porta-voz e discursos. Como a condição para o convencimento é o desinteresse do porta-voz, eu acho a internet um espaço extremamente interessante de conversão de persuasão em convencimento.
As mídias sociais já conseguem exercer a função de contrapoder ao Estado e organizações?
CBF - A força social de um discurso é inseparável da legitimidade de seu porta-voz. O discurso não vale pelo que é dito, vale por quem diz e pela posição social ocupada por quem diz. Não é possível afirmar se as mídias sociais já têm condições de enfrentamento com o mainstream opinativo das mídias. Não tenho como dizer isso porque, cada caso é um caso, e é preciso ver quem se manifesta e como se manifesta. É provável que uma pessoa que tenha uma ultralegitimidade em uma determinada área, se ela entrar em qualquer mídia de internet, poderá produzir um estrago, um furo numa opinião dominante proposta no sentido contrário. Mas se for um pé –de- chinelo, você pode juntar três mil que não vai acontecer nada. Então não dá para estabelecer uma relação de forças, sem que nós saibamos quais são os agentes sociais envolvidos.
Uma iniciativa de resposta de uma empresa para uma crise, que tenha sido iniciada nas mídias sociais, deve ser conduzida apenas neste ambiente ou deve tratada na grande imprensa?
CBF - As mídias se sobrepõem. Um indivíduo que é internauta, com capacidade de influenciar, também é leitor de jornal de revista. Acho que toda segmentação neste aspecto, de certa maneira, desmente a complexidade do consumo de mídia de um cidadão comum. Cada caso é um caso. Não dá para dizer, fique só na internet. Tem certos assuntos que ficam apenas na internet, outros não. Pode ser uma estratégia muito lúcida trabalhar só a web. Mas tem certos assuntos que transcendem a internet. Podem não ter transcendido ainda, mas pode vir a transcender. Neste caso, a estratégia de centrar fogo na internet não apagará o incêndio de uma notícia no Jornal Nacional. Isto é uma questão de gestão, de recursos escassos. É uma questão de administrar os recursos que você tem.
O senhor acredita que as organizações estão preparadas para atuar nas mídias sociais, na medida em que este ambiente exige maior clareza e verdade delas?
CBF - Não existe clareza e verdade por parte dos comunicadores organizacionais. Qual é a transparência que se deseja? Não é você dizer a verdade sobre os fatos, o que é uma impossibilidade porque os discursos não dão conta do mundo da vida. Mas é você dizer as verdades sobre os desejos. Portanto, não anular os desejos em nome da realidade, mas, de certa maneira, anular a realidade em nome dos desejos. Uma empresa pode ser transparente com o seu consumidor, quando ela diz para ele o que ela pretende da vida, qual é a dela. Tudo menos a responsabilidade social, mas o lucro, o mercado. Isto é a verdadeira transparência, a transparência da libido, das inclinações e dos desejos. O conceito de transparência é importante porque numa ética das relações entre as empresa e seus públicos, você dá ao público a chance de descontinuar a relação. Se você for transparente, você vai mostrar aquilo que você é. E o que você é? Você é desejo, é ambição, é excitação, luta pela glória. Quando você diz ao mundo o que você, verdadeiramente, é você está submetendo a sua libido a uma crença, numa veracidade fática, absolutamente intradutível em discurso.Em relação às ocorrências, só há pontos de vista, não há um relato verdadeiro do mundo. Este é o discurso da transparência número um. O discurso número dois é o oposto. É o discurso do perspectivismo. Não da neutralidade, mas do efeito. Não da imparcialidade, mas da parcialidade. Eu sou parte e você é outra parte. A minha parte quer isso e a sua? No lugar da neutralidade, a eficácia. No lugar da objetividade, a subjetividade. No lugar da verdade, o desejo. E aí você tem uma nova transparência.O que temos, na prática, é o cinismo. É a elaboração de um discurso na contramão do desejo, do que você efetivamente pretende. O cinismo pauta a vida nas corporações.
O que muda, efetivamente, no processo de comunicação de uma empresa com seus públicos de interesse com a web 2.0?
CBF - As empresas adotam uma política de comunicação para cada público. O comunicador organizacional cria versões diferentes do mesmo fato para cada público. O que é que as novas tecnologias estão mexendo? O problema é que os públicos estão interagindo, falando entre si pela web, portanto, de maneira muito mais rápida. É preciso adotar a mesma mensagem para todos. A tecnologia tem uma conseqüência moral que é dificultar cinismo que sempre pautou as estratégias de comunicação.
Conversei com Barros Filho durante quase 1h. Pouco para quem deseja ouvir conteúdo inteligente e com poder transformador. Falamos sobre a ética das empresas no ambiente da web 2.0. Confira na seqüência a entrevista completa.
O senhor entende que uma crise surgida no ambiente das mídias sociais (blogs, comunidades e fóruns) teria o poder de impactar negativamente a imagem e a reputação de uma empresa no mundo offline?
Clóvis de Barros Filho – Uma empresa, tal como uma pessoa, ou uma instituição pública conta com uma representação social, uma idéia de que se tem dela, uma imagem, uma reputação. Em outras palavras, tanto uma pessoa, como uma empresa, não existe por si só. Mas existem muito em função do que se acredita que elas sejam. Tanto as pessoas físicas, quanto as jurídicas lutam muito para aquilo que se pensam dela seja positivo. A importância disso é tão grande, que o Direito protege a imagem e a reputação na sua seara mais legítima que é o direito penal.
Costuma-se refletir sobre o que seria necessário para controlar esta idéia ou imagem da pessoa física ou jurídica. A primeira coisa que vem à mente, é que a própria pessoa física e a jurídica podem lançar mão de ações que, de certa maneira, contribuam para construir uma reputação que se deseja, a crença daquilo que socialmente se pensa de alguém ou uma empresa seja controlável por esta pessoa física ou pessoa jurídica. De certa maneira, a doutrina de relações públicas faz crer nisso o tempo inteiro quando propõe em organogramas e modelos simplórios a empresa no centro, no modelo de sol, com raios ligando este centro que é a empresa com o resto da sociedade, os stakeholders, fazendo crer que a empresa poderia estrategicamente controlar diversos enunciatários e, com isso, controlar como a sua reputação. Esta é uma crença ingênua. A imagem ou reputação que uma empresa tem na sociedade transcende os seus esforços, a sua iniciativa de controle. Em outras palavras, a imagem ou reputação é um processo social. É um fato social, e que, portanto, tem causas sociais que vão muito além de qualquer esforço ou iniciativa que a pessoa física ou jurídica possa ter para controlá-la. A pessoa física e a jurídica farão de tudo para que se pensem bem dela, porém, este esforço não é suficiente, porque se não fosse suficiente nunca se falaria mal de ninguém. Como se fala mal de todo mundo, o tempo inteiro isto é uma prova indiscutível de que este esforço de autopreservação da imagem é insuficiente para, de certa maneira, definir esta reputação. Nesse sentido, existe o que não poderíamos chamar de processo polifônico, onde a sociedade é um espaço, uma rede de circulação discursiva que se tem por objeto – a sociedade fala sobre tudo e a cada segundo, as idéias e as representações sobre as pessoas e as empresas vão sendo alteradas ininterruptamente por variáveis sofisticadas, complexas e que se complexificam ao infinito e, por isso, vão muito além dessa ou daquela iniciativa.
Existe uma observação do mundo que vai além da estratégia de comunicação. Acredito que, de certa maneira, subestima-se a inteligência do receptor. A Teoria da Comunicação já entendeu que o receptor é inteligente, mas a comunicação aplicada ainda não e acha que as iniciativas de comunicação são superpoderosas e resolvem qualquer problema. Então, os processos são polifônicos e complexos. O que fazem as novas tecnologias? Aceleram o que sempre aconteceu. Novas tecnologias não deram a ninguém inteligência. Novas tecnologias não permitiram enunciação de mensagens que antes não existiam. Não permitiram ao enunciatário decodificar o que não poderiam decodificar. Novas tecnologias aceleraram encontros que sem ela demorariam mais para acontecer. Possibilitaram encontros e, portanto, atos de comunicação. As novas tecnologias mudam a cadência do processo polifônico de definição das reputações. Nesse sentido, é claro que produzem efeito. Com a internet não ficou mais complexo. Continua tudo igual. Só que agora fica mais visível que o objeto da reputação tem pouco controle sobre os processos sociológicos e políticos de definição da imagem que se tem dele. A internet deixa isso mais claro. Fica mais visível que, mais acelerado, escapa ao controle do enunciador a construção da reputação.
O senhor acredita que é possível mensurar os estragos de uma crise nas mídias sociais?
CBF - Isso então é alguma coisa que me causa muita estranheza. O processo de definição de reputações é um processo sociológico e, portanto, em permanente trânsito. De tal maneira que mesmo se você conseguisse quantificar, ele estaria caduco no segundo seguinte, porque a sociedade não pára. As relações não param e, finalmente, o que você conseguiu quantificar estará vencido no segundo seguinte, porque já continuaram falando sobre a sua empresa no segundo seguinte.
A questão da reputação é uma questão que envolve aspectos cognitivos e afetivos. Como é que você vai quantificar a alegria que a marca da Nike produz em quem a contempla por ser consumidor daquela marca? Naturalmente, alguém dirá muito feliz, pouco feliz. Estratégia absolutamente demencial, porque alegria não se divide em quatro ou cinco categorias ou em trinta e cinco, porque os afetos são sempre inéditos. Eles não se repetem e, portanto, não se deixam categorizar. Toda tentativa de circunscrever quantitativamente resultados nesse campo, acaba, de certa maneira, desmerecendo aquilo que é mais importante, que é absolutamente intangível, que é o afeto. É aquilo que você sente muito mais do que aquilo que você tem a dizer. Isto não se deixa limitar a nenhuma estratégia de quantificação. Você pode até quantificar desde que você seja lúcido o suficiente para dizer: olha cada banana é diferente uma da outra. Partindo do pressuposto de que todas as bananas são iguais, é possível contar bananas. Aí, você adota uma cautela e certa humildade diante desta quantificação. Quem quantifica é arrogante, pretensioso. Acha que a verdade é 28,4.
Considerando que não seja possível controlar o que se diz de uma empresa na web, sobretudo, em um cenário de crise, seria então possível gerenciar algumas variáveis? Quais?
CBF - Para responder, preciso conceituar as diferenças entre persuasão e convencimento. Qual é a diferença entre “eu estou persuadido” e “eu estou convencido”? Eu estou persuadido indica que você, solitariamente, contemplou o mundo e acha que o mundo é de certo jeito. “Eu estou convencido” é quando esta pessoa persuasão foi submetida ao crivo do espaço público. Então, eu olhei o mundo e disse qual era o meu ponto de vista. Outros olharam o mesmo mundo e, de certa maneira, chancelaram esta visão. Enquanto no processo de persuasão nós permanecemos na dúvida radical e no subjetivismo absoluto. Quando você tem dez pessoas que olham para a mesma coisa e dizem mais ou menos a mesma coisa é sinal de que há naquele espaço público pontos de tangência. Ou seja, a minha persuasão vai se tornando um convencimento, na medida em que vou tendo a proteção dos pontos de vista de outras pessoas. Então, eu estou convencido de que a ação do profissional de comunicação é a ação no sentido de converter uma persuasão de seu cliente num convencimento. Em outras palavras, para que isso aconteça é preciso que aquele ato de fala não seja entendido como um ato de fala subjetivo, individual. Ele terá mais chance de convencer na medida em que ele estiver sido entendido como alguma coisa, digamos, chancelada pelo espaço público. Toda vez que você sai de um instrumento de persuasão para o convencimento, você descaracteriza o interesse que está por trás de toda a persuasão e você higieniza esse interesse, dando claro que outros disseram a mesma coisa que não tem necessariamente o interesse daquele que fez a primeira observação. Então, é uma passagem de higienização, digamos, do interesse de quem fala. Todo o trabalho de convencimento é um trabalho que tem de aparecer diferente do que é. Ou seja, o trabalho, o discurso será tanto mais convencedor, quanto menos ele parecer fruto do interesse de quem se posiciona persuadido. Todo tipo de consagração será tanto mais eficaz, quanto maior o desinteresse aparente da frase consagradora, do discurso consagrador. De certa maneira, todo o trabalho de persuasão e convencimento é um trabalho de anulação da perspectiva interessada de quem fala em nome de uma suposta verdade, em nome de uma suposta concordância, que na verdade, se pretende fabricar. Mais que supostamente parte de um ponto de partida. No fundo, para convencer, você precisa negar a verdadeira natureza interessada daquela propositura persuadida. O que a internet tem que de certa maneira age sobre este processo? É que a internet fabrica condições semelhantes à Ágora ateniense aonde os discursos circulam de maneira concentrada e muito mais rapidamente. Neste caso, o trabalho de higienização é um trabalho que ,de certa maneira, é facilitado pela rapidez com que os discursos circulam e pelo relativo anonimato dos porta-vozes. O número de discursos e iniciativas discursivas na internet é tão grande que você não sabe mais quem está falando. Este processo é facilitador de ações de comunicação. Você tem uma pluralidade de discursos infinita, uma rapidez de enunciação de discursos infinita e, portanto, uma tendência a estabelecer uma ruptura entre porta-voz e discursos. Como a condição para o convencimento é o desinteresse do porta-voz, eu acho a internet um espaço extremamente interessante de conversão de persuasão em convencimento.
As mídias sociais já conseguem exercer a função de contrapoder ao Estado e organizações?
CBF - A força social de um discurso é inseparável da legitimidade de seu porta-voz. O discurso não vale pelo que é dito, vale por quem diz e pela posição social ocupada por quem diz. Não é possível afirmar se as mídias sociais já têm condições de enfrentamento com o mainstream opinativo das mídias. Não tenho como dizer isso porque, cada caso é um caso, e é preciso ver quem se manifesta e como se manifesta. É provável que uma pessoa que tenha uma ultralegitimidade em uma determinada área, se ela entrar em qualquer mídia de internet, poderá produzir um estrago, um furo numa opinião dominante proposta no sentido contrário. Mas se for um pé –de- chinelo, você pode juntar três mil que não vai acontecer nada. Então não dá para estabelecer uma relação de forças, sem que nós saibamos quais são os agentes sociais envolvidos.
Uma iniciativa de resposta de uma empresa para uma crise, que tenha sido iniciada nas mídias sociais, deve ser conduzida apenas neste ambiente ou deve tratada na grande imprensa?
CBF - As mídias se sobrepõem. Um indivíduo que é internauta, com capacidade de influenciar, também é leitor de jornal de revista. Acho que toda segmentação neste aspecto, de certa maneira, desmente a complexidade do consumo de mídia de um cidadão comum. Cada caso é um caso. Não dá para dizer, fique só na internet. Tem certos assuntos que ficam apenas na internet, outros não. Pode ser uma estratégia muito lúcida trabalhar só a web. Mas tem certos assuntos que transcendem a internet. Podem não ter transcendido ainda, mas pode vir a transcender. Neste caso, a estratégia de centrar fogo na internet não apagará o incêndio de uma notícia no Jornal Nacional. Isto é uma questão de gestão, de recursos escassos. É uma questão de administrar os recursos que você tem.
O senhor acredita que as organizações estão preparadas para atuar nas mídias sociais, na medida em que este ambiente exige maior clareza e verdade delas?
CBF - Não existe clareza e verdade por parte dos comunicadores organizacionais. Qual é a transparência que se deseja? Não é você dizer a verdade sobre os fatos, o que é uma impossibilidade porque os discursos não dão conta do mundo da vida. Mas é você dizer as verdades sobre os desejos. Portanto, não anular os desejos em nome da realidade, mas, de certa maneira, anular a realidade em nome dos desejos. Uma empresa pode ser transparente com o seu consumidor, quando ela diz para ele o que ela pretende da vida, qual é a dela. Tudo menos a responsabilidade social, mas o lucro, o mercado. Isto é a verdadeira transparência, a transparência da libido, das inclinações e dos desejos. O conceito de transparência é importante porque numa ética das relações entre as empresa e seus públicos, você dá ao público a chance de descontinuar a relação. Se você for transparente, você vai mostrar aquilo que você é. E o que você é? Você é desejo, é ambição, é excitação, luta pela glória. Quando você diz ao mundo o que você, verdadeiramente, é você está submetendo a sua libido a uma crença, numa veracidade fática, absolutamente intradutível em discurso.Em relação às ocorrências, só há pontos de vista, não há um relato verdadeiro do mundo. Este é o discurso da transparência número um. O discurso número dois é o oposto. É o discurso do perspectivismo. Não da neutralidade, mas do efeito. Não da imparcialidade, mas da parcialidade. Eu sou parte e você é outra parte. A minha parte quer isso e a sua? No lugar da neutralidade, a eficácia. No lugar da objetividade, a subjetividade. No lugar da verdade, o desejo. E aí você tem uma nova transparência.O que temos, na prática, é o cinismo. É a elaboração de um discurso na contramão do desejo, do que você efetivamente pretende. O cinismo pauta a vida nas corporações.
O que muda, efetivamente, no processo de comunicação de uma empresa com seus públicos de interesse com a web 2.0?
CBF - As empresas adotam uma política de comunicação para cada público. O comunicador organizacional cria versões diferentes do mesmo fato para cada público. O que é que as novas tecnologias estão mexendo? O problema é que os públicos estão interagindo, falando entre si pela web, portanto, de maneira muito mais rápida. É preciso adotar a mesma mensagem para todos. A tecnologia tem uma conseqüência moral que é dificultar cinismo que sempre pautou as estratégias de comunicação.