sábado, 3 de maio de 2008

O quarto poder em xeque


O personagem que melhor representa a imprensa é, sem dúvida, o Super-Homem, uma figura com visão de raio-x, forte e quase onipresente. Assume, muitas vezes sem ser solicitado, o papel de representante da sociedade, absorvendo atribuições e obrigações com o propósito de defender a justiça e buscar a verdade. Claro, tanta responsabilidade exige "poderes extraordinários".

Note que jornalista sempre, ou quase sempre, enxerga além. É a visão além do alcance. Também consegue – muitas vezes de maneira questionável - acesso a locais restritos e a informações supostamente sigilosas, em razão de suas influências ou das interferências dos veículos para os quais trabalham.

Mas ao contrário da ficção, a realidade tem revelado um lado bastante pernicioso da mídia. Nem sempre as coisas terminam bem. Nem sempre o justo vence o injusto. Ao longo de nossa história – e aqui estamos falando apenas de Brasil - personagens ilustres ou desconhecidos foram assassinados por julgamentos da imprensa que conduziram a opinião pública ao erro.

Estamos falando de excessos e não do trabalho responsável e profissional, que ajudou este país, numa história recente, a sair de uma ditadura e a conquistar a democracia. Estamos tratando dos exageros traduzidos pela onda de denuncismos que marcou a mídia nacional nas duas últimas décadas.

O resultado? Perda credibilidade, na minha avaliação. Os brasileiros – entendo que a classe média - passaram a questionar o papel da imprensa e, com isso, a julgar a conduta, os valores e a posição dos meios tradicionais de informação. Não estamos considerando nesta breve análise o afastamento de anunciantes em conseqüência de crises econômicas, apenas das relações mídia versus sociedade.

Sustento isso de várias formas. Ao participar como ator e uma das maiores crises políticas da história do Brasil – a do Mensalão – pude perceber, bem de perto, o quanto a mídia estava enfraquecida. As sucessivas manchetes e capas das principais revistas e dos jornais do país mostravam, de maneira antecipada, um Presidente da República culpado pelos escândalos de corrupção e anunciavam um impeachment provável.

Vamos lembrar algumas delas, utilizando como exemplo uma das principais revistas brasileiras. Edição de 17 de agosto de 2005 trazia “A luta de Lula contra o impeachment. A defesa do presidente na televisão não convence e ele perde a chance de explicar o escândalo”. Em 13 de setembro de 2005, “Mensalão. Como e quando Lula foi alertado”. E ainda na edição de 10 de agosto de 2005, “Lulla: sem ação diante do escândalo que devorou seu partido e paralisou seu governo, Lula sesta em uma situação que já lembra a agonia da era Collor”.

O tempo passou e a história escreveu outro destino para Luis Inácio Lula da Silva. Ele não foi condenado pela população. Ele não caiu, foi reeleito e ainda alcançou um dos maiores índices de popularidade da história. Por que o julgamento da opinião pública foi diferente? Aqui, não quero apontar quem acertou ou errou, apenas constatar que as coisas mudaram. E muito!


Noto que os formadores de opinião não estão mais nas redações, como antes. Eles estão nas ruas, nas esquinas, com o “Seu Zé” dono de bar, nas lideranças de bairro e, sobretudo, nas redes sociais da internet. É um novo tempo. Ainda não sabemos se pior, ou melhor, apenas que as regras e valores estão em transição e que a mídia precisa se aproximar mais da população se quiser continuar forte e ocupando um espaço importante na sociedade.

Sobre o nome deste blog

Outro ponto que gostaria de expor é que o nome deste blog foi inspirado no livro O Ponto de Desequilíbrio - Como pequenas coisas podem fazer uma grande diferença. É do jornalista Malcolm Gladwell. O livro fez parte de uma ampla lista de leitura recomendada para as pesquisas que tenho feito sobre redes sociais.

Durante a alimentação deste blog, compartilharei algumas idéias defendidas pelo autor.

Saudações


Minha idéia ao criar este blog é poder compartilhar observações, questionamentos e opiniões sobre temas como relações públicas, jornalismo, comunicação em geral e filosofia. Podemos trocar todas estas denominações por "relações humanas".

É um espaço democrático do "livre pensar", dedicado a todos que, de alguma forma, querem expor suas idéias e dividir experiências com outros que tenham interesses em comum.

Você é meu convidado. Seja bem-vindo e aproveite este espaço.

Outro ponto: o cara da foto, claro, não sou eu. Trata-se do Dr. Gregory House ou apenas House para quem - como eu - acompanha com entusiasmo a série americana. O fascinante é a maneira questionadora de enxergar, de ler o mundo e lidar com relacionamentos do personagem. A propósito, o nome do ator é Hugh Laurie.