quinta-feira, 10 de junho de 2010

Além de futebol na Copa do Mundo

As críticas à nova bola da Copa do Mundo da África do Sul, a Jabulani, têm dominado os debates do mundo da bola a poucos dias do início do evento. Fora isso, ainda há uma polêmica ou outra sobre a escalação das seleções e a respeito da ausência de alguns atletas no mundial. Casos do brasileiro Ronaldinho Gaúcho, do francês Benzema, do alemão Ballack e do argentino Cambiasso.

Mas neste artigo não vamos tratar dos mesmos temas levantados por todos aqueles envolvidos ou interessados em futebol. Nossa proposta é trazer as técnicas de comunicação para avaliar algo que tem passado despercebido neste contexto: a forte presença da FIFA nesta Copa e a valorização da cultura e da política sul-africana.

Recorremos a Charles Pierce, a principal referência da Semiótica, para analisar o logotipo da Copa do Mundo. A presença institucional da FIFA está representada pela forte cor azul e da estrutura da fonte – mesmo tamanho de South Africa 2010. Ou seja, tão importante quanto. Em nenhuma outra Copa, a interferência da autoridade do futebol foi tão marcante. Funciona como um selo de garantia, diante de todas as desconfianças do mundo sobre a capacidade da África do Sul de realizar uma competição deste nível. É a base da sustentação do evento.

O logotipo está baseado nas seis cores da bandeira sul-africana: preta, amarela, verde, branca, vermelha e azul. O vermelho simboliza o sangue; a cor azul representa o céu; o verde a terra coberta por rica vegetação e o amarelo o ouro.

As cores também podem ser relacionadas à união dos povos que fizeram parte da história da África do Sul. As cores preta, verde e amarela faziam parte da bandeira do Congresso Nacional Africano (partido que representava a maioria negra na época do Apartheid). Já o vermelho, o azul e o branco estão nas bandeiras do Reino Unido e Holanda, países que colonizaram a região no passado.

O homem negro ensaiando uma bicicleta, uma das jogadas mais bonitas deste esporte, simboliza o belo e a maior parte da população africana. Representa também a alegria e a fantasia. Na forma rupestre e tribal, reforça a tradição cultural da região.

O continente também aparece ao fundo da imagem, de onde surgem setas que apontam para o sul, o local do evento. A falta de moldura no logotipo significa um novo momento da região e, em especial, a África do Sul. A Copa do Mundo da FIFA de 2010 passa a ideia de que o evento é do continente e não apenas de um país.

As formas circulares que aparecem no desenho simbolizam a circularidade, dão dinamicidade e contemporaneidade. E a bola, elemento fundamental para a realização do jogo e alvo de tantas críticas, é o símbolo que remete à tradição. E neste mundial, nem tão tradicional assim.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Padron, trabalhei na cobertura da Copa, recebendo uma enxurrada de informações dignas de causarem uma overdose sem caminho de volta. Seu artigo, com foco num elemento que está na cara de todos e por quase todos passa despercebido, é o que ouvi de mais interessante sobre o evento - agora, poucos dias depois de seu fim. Saudações.